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  • Foto do escritorMiguel Dias

Como fazer uma boa gestão do tempo durante a pesquisa?

Atualizado: 28 de mar. de 2021



Segundo Pitágoras, "com organização e tempo, acha-se o segredo de fazer tudo e bem feito". Nessas palavras do filósofo e matemático grego, compreendemos a importância de realizarmos uma boa gestão do tempo em várias atividades das nossas vidas.


Os estudantes dos cursos de graduação (bacharelato ou licenciatura), mestrado e doutoramento confrontam-se, inúmeras vezes, com dificuldades na gestão do cronograma da pesquisa. A procrastinação de tarefas compromete o bom desenvolvimento das atividades e, em muitos casos, causa momentos de tensão e estresse.


Coloca-se a questão: como fazer uma boa gestão do tempo durante a pesquisa?


Se procurarmos informações no "Doutor Google", facilmente encontramos inúmeras indicações nos mais variados formatos (artigos, infográficos, vídeos, etc.). Muitos desses recursos, são opções válidas. No entanto, quero partilhar convosco, algumas ideias que resultam da minha experiência como investigador, como gestor e, principalmente, como professor e orientador, acompanhando momentos onde os alunos tentam ultrapassar o "Cabo das Tormentas" do mundo da pesquisa.


Em primeiro lugar, precisamos analisar a importância de realizarmos uma boa gestão do tempo. Realizar uma boa gestão do tempo, torna-se numa competência essencial para:

  • Responder ao modo de vida atual (sociedade marcada por vários estímulos);

  • Cumprir com qualidade e responsabilidade os nossos compromissos pessoais e profissionais (horários, produtividade, etc.);

  • Reduzir o número de momentos onde perdemos tempo com tarefas desnecessárias (encontros não prioritários, reuniões longas e improdutivas, etc.);

  • Reduzir tudo o que nos distrai do essencial e leva para um universo de coisas supérfluas.

Face a estes desafios, precisamos encontrar caminhos que promovam uma melhor relação com o nosso tempo. Que técnicas podemos usar para melhorar a gestão do nosso tempo? Deixo algumas dicas:

  • Auto avaliação: em primeiro lugar, devemos fazer uma análise pessoal sobre o que nos motiva para realizarmos determinadas tarefas, o que nos distrai, como gostamos de trabalhar, etc.;

  • Checklist: devemos ter a nossa lista de tarefas. Talvez não seja necessário um rigoroso planejamento ao nível corporativo, no entanto, ter uma lista da "atividades pendentes" pode ajudar a não perder de vista os compromissos. Essa checklist pode estar numa parede, numa geladeira, num computador ou na palma da mão (celular). Existem várias aplicações informáticas para esse objetivo como o Google Keep e Evernote;

  • Agenda: organizar as atividades num determinado período na agenda. Algumas pessoas gostam de organizar as atividades por dia, outras por semana ou mês. Se possível, criar alarmes (lembretes) com antecedência de modo a não haver atrasos. Marcar na agenda apenas o horário dos compromissos pode não ser a melhor solução. Será importante ter avisos que possibilitem, em tempo útil, realizar as tarefas;

  • Flexibilidade: nem todos conseguem várias coisas em simultâneo. Na maioria das vezes, distribuo as atividades ao longo semana. O que tenho de cumprir esta semana? É necessário fazer num dia específico? Desse modo, com alguma flexibilidade, distribuo pelos melhores dias;

  • Planejar: organizar com regras. Gosto de organizar atividades indicando prazos e prioridades. O que deve ser feito, mas não é prioritário? O que não pode ficar para outro dia ou semana? Costumo usar cores diferentes na agenda eletrônica: verde (pouco importante), amarelo (com alguma importância) e vermelho (prioridade máxima, muito importante);

  • Planear a fuga: devemos fugir daquilo que nos torna improdutivos: televisão, filmes, comida, conversas e, principalmente, as redes sociais (inimigo numero 1 de muitos pesquisadores;

  • Incentivos: procurar incentivos pessoais para recompensar a nossa boa utilização do tempo e o cumprimento das nossas tarefas. Após cumprir a tarefa e o prazo, podemos ter incentivos pessoais. Alguns exemplos de incentivos para nos presentear com um momento de lazer, assistir a um filme, beber um vinho, telefonar para um amigo, ouvir uma música, etc.;

  • Delegar: algumas tarefas podem ser realizadas por outras pessoas. Analisar o que podemos delegar e depois revemos a qualidade do trabalho para o qual pedimos ajuda.

Estas primeiras dicas, têm um âmbito geral. Podem aplicar-se a várias situações da nossa vida e, naturalmente, ao contexto acadêmico onde desenvolvemos os projetos de pesquisa. No entanto, quando frequentamos um curso de graduação ou pós-graduação, colocam-se exigências específicas que nos obrigam também a sermos bons gestores do tempo. Por que devemos ser bons gestores do tempo na pesquisa? O exercício da boa gestão do tempo da pesquisa permite:

  • Cumprir os prazos definidos nos regulamentos (entrega de trabalhos, artigos, texto para qualificação/defesa, envio do projeto para Comitê de Ética, etc.);

  • Criar uma boa imagem pessoal perante os docentes e, principalmente, perante o orientador(a);

  • Não comprometer o desenvolvimento das atividades previstas no cronograma dos projetos de pesquisa (períodos para construção de instrumentos, realização de entrevistas, aplicação de questionários, revisão do texto, etc.);

  • Garantir um estado emocional que previna ansiedade, nervosismo, pânico, etc. A perda do equilíbrio emocional pode provocar o abandono irreversível para muitos estudantes.

Perante este cenário, precisamos analisar alguns elementos que, em múltiplos casos, prejudicam a organização do tempo do pesquisador. Quais as dificuldades de gestão do tempo durante a pesquisa? Com base na minha experiência através dos relatos e desabafos dos meus alunos/orientandos, destaco os seguintes elementos:

  • Deficiências na organização do tempo provocadas por sobreposição de prazos para entrega de trabalhos de várias disciplinas. Na maioria das vezes, o verdadeiro problema não está no volume de atividades para o mesmo dia ou para a mesma semana. O âmago do problema está na dificuldade do estudante em gerir e planear;

  • Participação em grupos de pesquisa, eventos e projetos de extensão. De fato, a a frequência de um curso superior envolve várias dimensões que precisam ser integradas num bom plano de gestão do tempo;

  • Articular a vida acadêmica com a vida pessoal e profissional é um grande problema para muitos estudantes. No contexto brasileiro, tenho observado situações muito deliciadas a esse nível. Os(as) estudantes-trabalhadores(as) e as estudantes-mães, por exemplo, debatem-se com grandes desafios para cumprir os prazos. O Brasil, ao contrário de outros países, não tem estatutos/regulamentos específicos e flexíveis para esses estudantes e provoca grandes dificuldades à sua vida acadêmica;

  • Uma boa parte dos estudantes tem dificuldade em lidar com imprevistos (mudanças de calendário, atrasos nos transportes, greves, sobrecarga de trabalho, etc.);

  • Cultura do "Vai dar certo" promove uma ideia de "providência divina" que irá alcançar-se um final feliz. Considero importante, manter uma atitude positiva perante a vida acadêmica, mas torna-se essencial, cultivar essa atitude com o reforço de alguns compromissos: "Fazer para dar certo";

  • Celular e as redes sociais provocam verdadeiros tsunamis na vida dos estudantes que desenvolvem pesquisas. Os níveis de concentração são muito reduzidos devido a longos períodos de tempo com dispersão no Whatsapp, Facebook, Instagram, etc.

Face a este cenário, precisamos criar disciplina. A teoria da Economia da Atenção diz-nos que somos improdutivos porque estamos viciados em tarefas supérfluas. Nas palavras do pesquisador americano Thomas Davenport, uma boa gestão da atenção revela-se essencial para aumentar a motivação. Na tentativa de deixar as últimas dicas, coloco a seguinte questão: o que fazer para fazer para melhorar a gestão do tempo da pesquisa? Não tenho como pretensão revelar um corolário de orientações, mas deixo as seguintes experiências:

  • Programar, o mais cedo possível, o mês da banca. Coloque no calendário e procure desenvolver as atividades para cumprir;

  • Ter um ritmo semanal. No mínimo, deve realizar atividades semanais do projeto de pesquisa. Fazer pouco é melhor do que não fazer nada. Muitas vezes, os estudantes têm dificuldade ao retomar as atividades quando passou muito tempo;

  • Pensar de forma eficiente. Se for exigida a produção de um artigo científico, programe o seu plano de trabalho, por exemplo, para numa fase inicial realizar uma revisão sistemática de literatura (RSL). Esse trabalho vai ajudar na produção do artigo (RSL) e para a revisão teórica (referencial teórico) do seu trabalho de pesquisa (TCC, dissertação ou tese);

  • Ser flexível. Alguns dias estamos mais predispostos para atividades de leitura, noutros para escrita e noutros para tratamento de dados. Considerando que cada atividade apresenta exigências cognitivas distintas, sempre que possível, devemos escolher aquelas que nos causam menor resistência nos dias que possamos estar mais cansados;

  • Ser autônomo. Muitos estudantes procuram frequentemente os(as) orientadores(as). Alguns estudantes, a cada passo dado, pedem revisão dos textos como garantia de confirmação científica e conforto psicológico. Essa dependência pode causar atrasos na pesquisa. Existem orientadores com agendas difíceis e não conseguem responder a um ritmo que atenda às necessidades dos orientandos mais ansiosos ou menos autônomos. Além disso, convém lembrar que, ao nível dos programas de pós-graduação, existe a expectativa, muitas vezes inscrita nos regulamentos dos programas, de promover a autonomia do mestrando/doutorando;

  • Utilizar as tecnologias no apoio à pesquisa. Algumas tarefas consomem muito tempo aos pesquisadores, no entanto, a tecnologia tem grande potencial em várias etapas da pesquisa. Para descobrir essas potencialidades podem consultar um artigo e um vídeo sobre a temática;

  • Criar um bom ambiente de trabalho. Procure criar um ambiente adequado às suas necessidade (conforto, luz, temperatura, silêncio, etc.). O que o faz trabalhar melhor? Gosta de ouvir música? Gosta de estar acompanhado?

  • Conhecer o seu pico de energia. Quando é mais produtivo(a)? Gosta de trabalhar no de manhã, à tarde ou à noite? Devemos libertar tempo para desenvolver os trabalhos de pesquisa no período de maior pico da nossa energia;

  • Negociar uma boa relação com o celular. O celular pode ser um bom auxiliar para os processos de comunicação do longo da pesquisa. No entanto, na maioria dos casos, revela-se com um dos principais meios de distração. Durante o trabalho acadêmico, recomendo que desligue o som e mantenha-se afastado(a) desse equipamento para o bem-estar do seu trabalho.

São muitos os fatores que convergem para a qualidade da produção científica. A boa gestão do tempo é apenas uma das incógnitas da equação do sucesso da pesquisa. Mas...pode fazer toda a diferença!





Miguel Dias

prof.migdias@gmail.com


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